sexta-feira, 14 de maio de 2010

Pega com raiva que o serviço acaba

Quando já estávamos com os cabos de aço esticados e o *tifor começou a trabalhar, recordo-me muito bem das palavras do encarregado Hernandes: “Vâmo Capixaba, pega com raiva que o serviço acaba logo”. E dai pra frente parecia que as palavras eram realmente de incentivo, a coisa fluía o “trampo” acabava bem antes do que o cronograma previa e o resto da noite era de descanso.

O fato narrado acima faz parte da minha época de “peão” na fábrica de celulose, e serve para ilustrar como um bom comando é importante na frente de qualquer atividade. Foram 35 noites de muito trabalho, sofrimento puro, mas digno trabalho fizesse calor ou frio tínhamos que fazer o que era determinado, e a frente da equipe de mecânica, o encarregado Hernandes, cabo da reserva do Exercito Brasileiro. Ele conduzia a coisa com mão de ferro. Era linha dura, não tolerava que o serviço fosse feito “meia boca” como se diz no jargão do chão de fábrica. Mas sempre conseguia que a equipe entregasse a tarefa. O mais engraçado é que não conseguíamos ficar com raiva dele, ele sabia como conduzir a situação.

As empresas têm carência de pessoas que saibam o que fazer e como fazer. Tem apenas pessoas que sabem a metade disso. Ou sabem o que , ou como. Isso é uma limitação para muitos lideres de turma e serve de preocupação para muitos gestores. As empresas devem ter políticas claras de como seus colaboradores devem executar as tarefas e quem deve mandar. A coisa frouxa não funciona. O Hernandes, quando dava um certo horário da madrugada que a coisa tava pegando mesmo, ele chamava a equipe e dizia que era hora de tomar um café e já sabíamos que quando a turma voltasse para a frente de trabalho, tudo ia ser diferente e o que parecia estar complicado, acharíamos uma solução mais branda.

Eu gostava quando ele falava par pegar com “raiva” que o serviço anda. Isso era até divertido, ela já falava e dava um sorriso meio que tímido, sabia que estava nos ajudando a resolver os problemas, que eram sempre muitos e as tarefas sempre perigosas com equipamentos que muitos não conseguem imaginar. Mas sempre tudo era resolvido.

Existem muitas pessoas que trabalham com pessoas que acreditam cegamente que a forma de condução deve ser à moda antiga, com palavras de baixo calão, gritaria e gestos só pra mostrar força, mas isso aos poucos, ou melhor, de maneira muito rápida vem mudando e dando ares mais humano às relações entre as pessoas. Faço questão de dizer que não era nada bom trabalhar em locais altos, confinados, sujos, mas tinha a certeza que com a boa gestão do Hernandes, a tarefa seria entregue de maneira correta, segura e que ele sempre, ao termino da atividade, nos daria como prêmio, o resto da madrugada de folga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário