sexta-feira, 20 de março de 2009

JOÃOZINHO* E A CTPS

O relógio despertou ás 4:45hs e Joãozinho deu um pulo da cama. Não havia dormido bem sabendo que acordaria tão cedo para o seu compromisso na capital. Tomou banho rapidamente, tomou um gole de café do dia anterior e foi tomar seu ônibus. A viajem transcorreu bem, apesar de ser uma segunda feira onde geralmente a condução está lotada. Chegando a rodoviária tomou outro coletivo até o seu destino final, um Centro de Formação de Vigilantes. Joãozinho esperou por este momento com bastante ansiedade, tomará a decisão de mudar de ramo meses antes e até aquele dia chegar foram muitos obstáculos. A começar pela vaga no curso, a papelada (o tamanho da burocracia não me permite listar, perderíamos muito tempo) mais exames, etc, etc, etc... a apresentação foi tranquila, um “suga” de leve, afinal a base do curso imita o militarismo, mas nada que assuste nosso trabalhador.

Os dias passam e Joãozinho desenvolve a técnica do aprendizado de vigilante de maneira exemplar. Boas notas, boas amizades, bom aluno. Ao final de cada dia, ele sempre liga para seu parentes mais próximos para falar sobre o curso, está feliz e não vê a hora da formatura para iniciar sua jornada na profissão que escolheu para desenvolver após longa jornada trabalhando nas fazendas do ES. E seguem as aulas: legislação, defesa pessoal, tiro (e são muitos, Joãozinho adorou esta parte) e a primeira semana passou e a segunda, enfim o curso acabou e lá vem Joãozinho de volta para casa feliz da vida, afinal de contas, agora ele vai poder buscar um emprego na área de segurança patrimonial, vida nova e futuro de esperança.

Mas algo está errado......

Joãozinho deixou sua Carteira profissional para ser carimbada, leia de novo “CARIMBADA” na Polícia Federal, isso mesmo aquela dos agentes de roupa preta e cara de mal. O tempo passa, passa, passa e nada da CTPS. Joãozinho espera, espera, espera, mas ele é brasileiro, como o agente da PF responsável pelo carimbo, e não desiste nunca. Um mês, dois meses, TRÊS meses e nada. A situação começa a complicar. O sonho de Joãozinho em ser vigilante parece que vai virando um pesadelo. Afinal qual é a dificuldade de alguém bater um carimbo numa folha de papel? Será que é a crise mundial? Será que a carteira de Joãozinho tem algum problema? Ele liga várias vezes buscando informações mas a resposta é sempre a mesma, ainda está na PF. Natal, Ano Novo, Carnaval (Joãozinho até tocou na bateria do Bloco) mas nada da carteira, tudo que Joãozinho queria era ter uma nova profissão, e buscou isso com dignidade, ele pagou pelo curso não foi de graça e infelizmente sua carteira está presa na sede da PF, e diga-se de passagem é difícil até de chegar perto do prédio, como se a instituição fosse algo particular onde apenas pessoa de gravata podem entra, onde na verdade é mais um setor de servidores públicos e nada mais.

Enfim, após três longos meses de espera, Joãozinho usou o “jeitinho” brasileiro. Lembrou de um amigo que alguns anos antes havia ingressado na PF para trabalhar no setor administrativo, não perdeu tempo e ligou ao amigo pedindo ajuda. De pronto o amigo de Joãozinho pediu que ele aguardasse até a tarde daquele dia para que fizesse contato com outros amigos na sede da PF para saber qual era a situação real. No fim do mesmo dia a veio a melhor notícia do ano para Joãozinho: sua carteira seria entregue na sede do centro de formação onde havia feito o curso, e não era só isso, estaria com recomendação de ser entregue em mãos, com todo o cuidado. No dia seguinte lá estava Joãozinho com sua carteira carimbada e pronta para ser assinada por alguma empresa do ramo de segurança.

Ps: só para registro, o amigo de Joãozinho disse para ele depois, que a carteira estava a mais de dez dias na mesa do responsável pelo carimbo, e não se sabe por qual motivo o ‘agente publico’ não cumpriu o seu papel de ‘carimbador’.... FIM.
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Prezados a pequena passagem que acabaram de ler foi um fato verídico por mais que pareça uma novela mexicana. Quanto tempo mais teremos que presenciar fatos como este? Onde um cidadão brasileiro, cumpridor de suas obrigações, fica a mercê de um sistema publico praticamente falido, com pessoas mal remuneradas, mal treinadas, mal humoradas e pior, não cumprem as suas obrigações. Parece que quando não é com a gente, não nos importamos, mas depois que uma situação como esta acontece do nosso lado, temos a impressão que somos tratados como bobos e que apenas assistimos sem nos manifestarmos. Não quero aqui generalizar a situação a todos os servidores públicos, sabemos que existem muitas pessoas de bem neste país. Porém a minoria acaba pagando o pato e revelando uma situação lamentável onde o pobre Joãozinho passou três meses sem poder empregar-se por falta de um carimbo. Boa sorte Joãozinho!!!

* Joãozinho foi um nome escolhido para não revelar a identidade do brasileiro que sofreu este descaso.

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